Como é a Dança do Ventre no Brasil


Hoje vamos falar um pouquinho da história da Dança do V
entre no Brasil, grande parte dessa história eu vivi, pois comecei a Dança do Ventre antes dela ter crescido e passar a ser como é hoje. Na época quando falava "eu faço dança do ventre", o outro respondia "dança do que? Como é essa dança? E quando era alguém que já conhecia respondia "a dança da odalisca né?" Na época quase ninguém sabia, quase ninguém conhecia o que era a Dança do Ventre.

Vamos voltar na história, a Dança do Ventre chegou ao Brasil junto com os primeiros povos árabes que vieram no final de 1800, mas ficou restrita dentro da comunidade árabe, depois da década de 60, que ela começou a ser oferecida de forma mais aberta, em restaurantes, alguns cafés e em festas. As primeiras bailarinas que começaram a dar aulas em São Paulo foram a Samira Samia, idealizadora do Mercado Persa, o maior evento de Dança do Ventre do mundo e a Sherazade, as duas foram as percussoras da Dança do Ventre no Brasil, mais precisamente em São Paulo que tudo começou e foi na década de 70 aproximadamente que a Dança do Ventre saiu da restrição da comunidade árabe e ganhou um novo público os amantes das Danças etinicas e os místicos.

Quando iniciei a Dança do Ventre no final de 1993, existiam pouquissimos lugares que ensinavam, havia apenas a Samira, a Sherazade, o khan el kalili , e algumas outras duas ou três professoras que haviam estudado com a Sherazade ou Samira. espalhadas por São Paulo, a procura pela Dança do Ventre vinha crescendo naturamente até que a TV Globo produziu a novela "O Clone". cujo a protagonista aparecia diversas vezes Dançando com trajes lindos encantado todo mundo. O causou dois efeitos, um muito bom bom e o outro não tão bom.

Nesta época eu já dava aulas, já fazias shows semanais, mas quando começou a novela, eu não tinha mais agenda, as turmas chegavam a ter mais de cinquenta alunas, passei a indicar as melhores alunas para começar a ensinar, toda festinha de aniversário queriam a Dança do Ventre, todo mundo queria dançar, aprender, entender, queria assistir a Dança do Ventre, ela saiu do grupo restrito do pequeno nicho de misticos e amantes das Danças etnicas para se popularizar sendo apresentadas em todo tipo de bares e restaurantes, e ensinadas nas academias dos bairros, o que foi muito bom e colhemos os frutos desta época até hoje.

Muita gente aproveitou o fluxo, começou a dar aulas e serem contratadas para dançar mesmo com apenas 2 ou 3 meses de aula. A demanda que sugiu era grande e não havia tantos profissionais para atende-la e bailarinas de outras áreas como ballet e jazz se apresentavam, colocavam um traje e se requebravam, todos queriam se aproveitaram da onda da Dança do Ventre e este foi o lado não tão bom deste momento, a qualidade do trabalho caiu.

Considero um período negro da Dança do Ventre, o período da novela e o pós novela, o pós novela recente, foi um momento de desequilíbrio da Dança, a qualidade do trabalho apresentado caiu muito por conta da demanda, as escolas e academias assimilaram esse pessoal novo que não entendia, não sabia o que era a Dança do Ventre, não entendia seus processos, não entendia o que era sua base cultural, o peso da cultura, da sociedade que a Dança do Ventre carregava e carrega até hoje, e passaram a ensinar e apresentar uma Dança do Ventre que era apenas movimentos e realizavam assim e ensinavam assim. E se perdeu a essência do que era a Dança do Ventre, quanse se perdeu o trabalho que estava sendo realizado anteriormente, mas na natureza tudo se equilibra e o tempo foi passando e os bons profissionais continuaram trabalhando e a seleção natural aconteceu e os mais qualificados ficaram, melhorando e transformando a Dança do Ventre no que ela é hoje. Nesta época eu fiquei chateada e me afastei por mais ou menos três anos, mas não é possível fugir quando o chamado vem de dentro e voltei.

Quando voltei eu percebi que a qualidade havia melhorado, no Mercado Persa percebi que o período de queda havia passado, hoje eu vejo que a qualidade da Dança aumentou muito, as pessoas estão buscando conhecimento estão entendendo mais do que se trata a Dança do Ventre, estão percebendo a liberdade que ela traz. A Dança do Ventre especificamente não tem um padrão rígido, tentaram colocar esse padrão na Dança, os padrões surgiram neste periodo negro na tentativa de resgate da qualidade e para mostrar que esta ou aquela escola era melhor, mas a Dança do Ventre é livre, é uma dança onde o principal foco e a expressão de liberdade, ela não está presa a nenhum padrão, hoje mas gente fala de padrão na Dança do Ventre, mas algumas regras sem sentido permanecem como uma crença.

Dança do Ventre passou no Brasil por esse processo de construção da sua identidade, que passou pela popularização, declinio da técnica, retomada da Dança nativa e especularização e influencias de outras nacionalizades. Este processo aconteceneu junto o acesso ao estudo, as primeiras escolas, formanção dos primeiros professores, Samira Samia e a Sherazade, dentro do  meu entender da história a dança do ventre no Brasil, elas são a primeira geração de professores, a segunda geração vem os alunos delas que fundaram as duas escolas e eu sou terceira geração porque eu aprendi com quem aprendeu com elas, então eu faço parte da terceira geração e depois vem todo o muntante de profissionais que existem hoje,

Durante este processo teve momentos distintos de influencias de outras nacionalidades como o mais recente de adoração as bailarinas russas e ucranianas que de certa forma mudou nossa forma de Dançar, hoje as composiçôes são mais verticais e muitos movimentos de cabeça e pernas amplas devido o histórico de ballet e Jazz que estas bailarinas possuem. Anterior a isso recebos a influencia das bailarinas americanas com a estrutura dos shows da Broadway. Cada grupo etnico ou geográfico possui sua movimentação natural e a Dança do Ventre se molda e esta movimentação. Quando entendemos todas estas influencias e que a Dança está em constante processo de construção e reconstrução nos libertamos das regras, pois todas são transitórias.

Só quando compreendemos processo histórico, aprendemos a ver as diferenças na movimentação do corpo com os pesos diferentes que cada bailarina apresenta, seja ela americana, francesa, russa, ucrâniana ou do Cairo com sua dança baladi que é possivel entender a grandiosidade da Dança do Ventre. Por isso que sempre vou repetir conhecimento liberta. Para uma Dança livre e criativa é impressindível entendermos os processos da Dança e de nós mesmos.


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