Papo de Bailarina: Dança do Ventre? Só se for agora.
O tempo perguntou pro tempo, quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo, que o tempo tem o tempo que o tempo tem”. Parlenda Infantil- Cultura Popular
Quando eu era criança sempre ia pescar com meu pai, ele tinha vários equipamentos de pesca em água doce e para o alto mar, sempre ouvia ele falar “não mexe neste é para quando eu for pescar no mar”. Eu me imaginava lá com ele, mas infelizmente ele nunca foi e nem eu. Uma das minhas maiores dores foi olhar aquele armário vazio, minha mãe acertadamente doou tudo, várias varas, carretilhas, iscas e linhas especiais que nunca usamos.
Talvez vê-lo adoecer muito jovem e deixar de realizar seus sonhos me deixou com pressa de realizar os meus. Casei e tive filhos muito cedo, estudei muito e trabalhei muito, realizei noventa por cento dos meus sonhos. Fiz teatro, flamenco, dança indiana, dança do ventre, jazz, ballet, contemporâneo, capoeira, yoga, taekwondo, dança circular, informática, inglês, árabe, estudei desenho, música, administração, marketing, frequentei muitas igrejas e religiões diferentes, fiz cinco pós graduações e vinte especializações, incontáveis cursos sobre educação, dança, espiritualidade e vida alternativa. Dancei em quase todo Brasil, com os músicos mais famosos na mesma época que ensinava crianças a ler e criava a minha família. Trabalhava ao mesmo tempo em duas escolas, oito academias, fazia dois shows por semana e ainda assistia desenho animado e tentava fazer bolos e biscoitos para meus filhos, enquanto cuidava das plantas e dos gatos.
Hoje já vivi um terço a mais que meu pai, e aprendi que o único tempo que existe é o agora, se agora eu não realizar aquilo que desejo, aquilo que me faz feliz, o meu sonho, o amanhã nunca chegará.
É agora que pego minha neta no colo, que ando de bicicleta com Miguel, que converso com uma aluna que precisa de ser ouvida, é agora que eu danço essa música que gosto, é agora que subo no palco, é agora tento aprender pole dance. O momento certo é agora, mesmo que não me sinto preparada, mesmo que sinto medo, mesmo que tudo possa dar errado, é agora que faço.
Eu nunca me senti preparada, sempre tive medo, errei muito, várias plantinhas morreram, marquei dois compromissos no mesmo horário, esqueci o biscoito no forno, ainda não sei fazer bolos. Mas faço, vou com medo, concertos os erros quando possível e se não for possível peço perdão, tento fazer melhor na próxima vez.
Porque o importante é que todos os pertences sejam usados, que nenhuma roupa nova fique no armário, que todos os abraços sejam bem apertados, que todas as músicas sejam Dançadas, e que todos os desejos e sonhos sejam realizados agora.
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