Introdução


Curso de formação de professor de dança do ventre
Introdução
                                                 
A dança do ventre é uma das danças mais controversas que podemos encontrar no Brasil. A literatura existente não é específica quanto a sua origem e formatação. Cada bailarina criou seus próprios conceitos de dança e nomenclatura, dificultando um aprendizado sistematizado, visto que no oriente é uma dança empírica, desenvolvida no seio familiar, existindo diversas formas de expressá-la.
Apresentada no Brasil desde os anos 50, a dança do ventre tem sofrido muitas mudanças em seu aspecto artístico e coreográfico desde então. A dança apresentada e praticada atualmente se difere da dança do ventre dançada há vinte anos, o que mudou? Por que mudou? Estávamos dançando errado? Estamos dançando errados hoje? 
Marcia Dib em seu estudo estabelece que “o homem percebe e age no espaço segundo normas pessoais, sociais e culturais e, por outro lado, o meio age sobre ele”, nesta dialética infinita que a história é construída e reconstruída incessantemente. Esta afirmação justifica as mudanças ocorridas, mas por que isso não ocorre com outras danças como o ballet clássico, ou se ocorre são mudanças mais sutis. O ballet é praticado dentro de um repertório especifico e nomenclatura estabelecida, por que a dança do ventre não é assim? São questões constantes na mente de quem inicia o aprendizado da dança do ventre.  Compreender a dança do ventre inclui compreender o processo da historia do homem e seu fazer artístico.
Assim podemos propor que para esta compreensão da Dança do Ventre se faz necessário o estudo percorra caminhos além da história desta dança  no Brasil e no Oriente, mas também a história da dança no mundo, que evolui e se modifica de acordo com o pensamento do homem juntamente com suas ações, dentro de diversos contextos históricos, sociais e econômicos, no qual conquistadores e conquistados trocam de papeis constantemente, onde a globalização já ocorria muito antes da existência deste termo, influenciando e favorecendo as transformações sociais e culturais.
“todas as culturas impõem correções a realidade crua, transformando-as em objetos flutuantes em unidades de conhecimento.” Edward Said
Dentro desta perspectiva de interação individuo sociedade, o processo de apoderar-se da dança do ventre feito pelo ocidente, só pode ser compreendido diante do estudo histórico e sistemático da evolução da dança e difusão da cultura oriental pelo ocidente tomando o cuidado de não cair nas armadilhas estereotipadas do orientalismo europeu.
Apesar da existência da internet que favorece a pesquisa, o conhecimento e estudo sistematizado e cientifico ainda é pouco difundido.
Nas escolas de dança e academias aqui no Brasil poucos profissionais conhecem o que é a dança do ventre e sua herança histórica e cultural. Praticam a dança do ventre como qualquer outra dança, confundindo a dança árabe e a dança do ventre, apesar de que ambas estão intimamente ligadas, cada uma possui as suas raízes e personalidades própria. A falta de conhecimento não pode ser julgada, no entanto uma dança milenar necessita de ser estudada e entendida.
Outra questão muito debatida hoje no Brasil é a forma de ensino desta dança, como no oriente não existem escolas de dança do ventre e nem um método sistematizado e pré-estabelecido, a questão é qual o melhor método a ser adotado para a aprendizagem de dança do ventre?
No oriente a dança ocorre espontaneamente, assim como a passista aqui no Brasil que cresce dentro das escolas de samba e aprende a sambar vendo a mãe, a tia e avó sambando. A dançarina oriental também aprende no seio da família, de forma natural e empírica, os movimentos de ambas fazem parte do histórico e da memória corporal delas.  Mesmo fazendo parte da cultural local não existem escolas de passistas pelo Brasil afora, como no oriente não existem escolas de dança do ventre em todo lugar. É um universo que não faz parte da vida de todo árabe, como muitos brasileiros não sabem e não gostam de sambar.
O ensino da dança do ventre no Brasil exige o preparo e a reorganização postural  e muscular para que os movimentos específicos sejam realizados com desenvoltura e naturalidade assim como as bailarinas nativas do oriente. Uma coreografia para ser considerada dança do ventre deve conter movimentos cadenciados e ondulatórios de quadril, como disse Mahmud Reda, um dos maiores coreógrafos do Egito, em uma de suas visitas ao Brasil “sem quadril” não é Dança do Ventre e para que isso ocorra o treino e a preparação física é intrínseca a aprendizagem.
 A música árabe com seus tons específicos não faz parte da rotina auditiva do brasileiro o que dificulta a aprendizagem da dança do ventre, assim como é difícil ensinar um americano sambar é difícil aprender e ensinar a dança do ventre. A busca do melhor método que não descaracterize a dança nem a transforme em dança estereotipada ou caricata  é o desafio de quem pretende se profissionalizar nesta arte.

Compreender a dança do ventre e propor um método eficaz de ensino é a proposta deste curso.

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